Psicanálise
| 13 de junho de 2020
Por adminfreudiano
A maioria dos estudantes e até mesmo profissionais que atuam em seus processos terapêuticos com a vertente psicanalista, passam grande parte do tempo se perguntando por que a psicanálise recomenda a não tomar notas durante a sessão. Você é mais um desses que fica se perguntando se vai conseguir se lembrar de tudo o que o paciente relatar em sessão, se não anotar cada detalhe ou até mesmo o resumo do que os seus pacientes disserem na sessão?
Essa crônica é para você que se faz essa pergunta e tenta entender por que a recomendação é de não tomar notas durante as sessões.
Pois bem, tomar notas pode gerar e provocar desconfiança no seu paciente, por vários motivos, um deles é a sensação que o paciente pode sentir de que a sua fala, seu relato pode não ser importante ou até mesmo interessante para aquele terapeuta, uma vez que este se divide entre a escuta e a anotação.
Outro motivo é a possibilidade de uma fragilidade no processo transferencial, ou seja, na relação direta de confiança do paciente com o terapeuta.
Em síntese, acreditando que esta questão não se encerra aqui, um outro motivo para que não se execute anotações durante a sessão é que o processo da anotação pode colocar em risco a capacidade da escuta, uma vez que os processos psíquicos e intelectuais ficam divididos entre anotar e escutar. E nessa divisão se perde o essencial do processo terapêutico, que é estar inteiro para a escuta do outro, independente se essa escuta é flutuante ou total, o paciente precisa sentir acima de tudo que aquele local, além de seguro e ético também é um local de atenção ao seu sofrimento.
E não menos importante, por parte do terapeuta, o ato de se ver pensando no que anota e no que escuta faz com que o terapeuta possa ficar apreensivo e até mesmo perturbado com a situação e com as informações que lhe chegam, podendo não saber disfarçar esse desconforto e retomando ao interminável da análise, a cisão, a falta para o paciente.
O cuidar do paciente encontra-se nesse amor de dar o que não se tem, o amor se faz na transferência assim como todo processo terapêutico. Uma vez que o belo não está aqui ou ali e sim na relação.
Por fim, a recomendação é que não faça anotações durante a sessão, contudo por questões éticas regulamentadas pelo C.F.P. é importante e imprescindível que as anotações sejam realizadas nos prontuários.
Portanto, meu caro colega o cuidado não se trata, tão somente, de questões de memória, mas de fazer-se presente, tornando possível o re-cordar.
Psicóloga Paula Gonçalves
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