Com toda certeza esse não vai ser o melhor texto que vocês irão ler. Mas desafio a encontrar uma oportunidade melhor para crescer. Que vivemos tempos difíceis durante alguns anos, mas especialmente falando desde o início da COVID-19, todos já sabemos. Mas mesmo com as idas e vindas, com todas as variantes, com todos os casos e mortes.

A vida continua acontecendo, e todas as coisas da vida continuam também. Lendo os relatórios de estágio, e para quem não sabe, sou preceptora do estágio de psicologia no HRAD, Hospital Regional Antônio Dias, e na Casa de Misericórdia de Patos de Minas. Percebi como a vida de fato se conecta. Não sei o porquê, mas não tinha percebido, e ligado antes um caso ao outro. Até porque é o mesmo caso.  Acho que vou colocar a culpa na máscara e no calor, e não no excesso de casos que atendemos, para acalmar um pouco a minha não ligação entres os casos antes. 

Mas ela, uma mãe e irmã, que havia perdido “a filha, que para toda família era especial”, no auge da sua vida, em um retorno de visita a seu pai, internado na capital para manutenções a respeito do seu marca-passo. Pois é, a neta faleceu no retorno da visita ao seu avô que tanto a queria ver.

 Bom aqui respiro fundo, por que esse avô retorna da capital e fica sabendo de todo o ocorrido. Da entrada na Santa Casa, ou seja, é internado. E decide que diante tamanha tragédia não deseja mais viver. Não dá para culpar ele. Sua filha no Regional e sua neta no cemitério. É muita dor para carregar. Mas tenho uma notícia boa para vocês, a filha saiu da cirurgia, e com tempo foi ficar de acompanhante do seu pai na Santa Casa. Entre idas e vindas do hospital, entre idas e vindas da UTI, passam quase 3 meses. 

Ele reage, ele definha. Ele vive o luto. A mãe, a mãe, ela se cala, ela chora e divide a sua história com a minha família de estagiários. E ela começou todo esse processo no Regional e continuou na Santa Casa. A história não termina aqui. Com toda certeza o caminho dessa família é longo, uma verdadeira órbita. RAIVA – BARGANHA- REVOLTA – DEPRESSÃO – ACEITAÇÃO e ESPERANÇA. E, convenhamos, por mais que a esperança cause dor, ela mantém a família, ela mantém o ser humano. Ela dá propósito. 

Decidi escrever sobre essa história que de longe é a mais pesada, de longe a mais curiosa, mas de perto, é a mais humana, a mais cotidiana que passou por mim esse ano. Foram mais de 300 histórias, quase todas tragédias pandêmicas, algumas tragédias cotidianas, muitas dores reais. 

Mas no final a ESPERANÇA que mantém todos nós na órbita, a esperança que mantém todos nós na vida. Está em todos os casos e espero que esteja em todos os outros que passarem pela minha escuta. 

Se algum dia buscarem alguma resposta, algum denominador comum, nas histórias, nas vidas e na realidade das pessoas, com toda certeza, por mais escondido que esteja,  a esperança estará lá, pronta para ser escutada, para ser trabalhada, para ser transformada, na espera   de uma ação humana e qualificada para resgatar o sentido da vida.

Espero que tenham gostado. Se dentro do limite ÉTICO desejam saber mais sobre as histórias do cotidiano, terei prazer em contar essas belas histórias de vida. 

@psicologapaulagoncalves